iFood aumenta a taxa mínima dos entregadores: Benefício ou ilusão?

Taxa mínima dos entregadores

O anúncio do reajuste veio no momento certo, ou, para muitos entregadores, tarde demais. Após mobilizações em todo o país e a crescente insatisfação com os valores pagos por entrega, o iFood decidiu aumentar a taxa mínima dos entregadores, alegando escuta ativa e comprometimento com melhorias.

A decisão foi divulgada oficialmente no dia 29 de maio de 2025 e entrará em vigor a partir de 1º de junho de 2025. O timing é claro: pressão social, greve nacional em março e uma reputação arranhada forçaram a plataforma a agir. A greve nacional de março, motivada principalmente pela reivindicação de melhores taxas e condições de trabalho, ganhou adesão em diversas cidades e expôs a insatisfação da categoria.

Qual o novo valor da taxa mínima dos entregadores do iFood?

A atualização contempla entregadores de diferentes modais:

  • Moto e carro: de R$ 6,50 para R$ 7,50
  • Bicicleta: de R$ 6,50 para R$ 7,00

Além disso, o valor por quilômetro rodado permanece em R$ 1,50, sem reajuste.

A plataforma também anunciou a padronização das rotas de bicicleta para no máximo 4 km, o que antes era uma demanda antiga, especialmente em grandes cidades.

Percentualmente, quanto representa esse reajuste nas taxas atuais?

  • Moto e carro: aumento de R$ 1,00, ou aproximadamente 15,4%.
  • Bicicleta: aumento de R$ 0,50, ou aproximadamente 7,7%.

Embora à primeira vista esses números pareçam razoáveis, é preciso colocar isso no contexto do custo de vida e dos custos operacionais enfrentados por quem depende dessas entregas como renda principal.

O reajuste realmente compensa o custo de vida dos entregadores?

Se compararmos com a inflação oficial de 2024 (INPC), que fechou em 4,8%, o reajuste está acima desse índice. Mas a matemática da sobrevivência vai além do IBGE.

Um entregador de moto, por exemplo, enfrenta gastos com:

  • Combustível (em alta constante);
  • Manutenção do veículo;
  • Impostos e taxas como IPVA e Licenciamento;
  • Equipamentos de segurança adequados.

Ou seja, o que chega na conta no fim do dia nem sempre paga o almoço, e o reajuste, embora simbólico, está longe de reverter o sufoco diário.

O que dizem os entregadores: alívio ou maquiagem?

Nas redes sociais e grupos de entregadores, o sentimento é quase unânime: o aumento é insuficiente.

As principais demandas da categoria incluem:

  • Taxa mínima de R$ 10 por entrega
  • Valor por km de R$ 2,50
  • Limitação das rotas de bicicleta para até 3 km

Como disse um entregador de São Paulo: “É um tapa na cara com luva de veludo. Parece bonito, mas ainda dói.”

Impacto nos consumidores: os preços do iFood vão subir?

Segundo o próprio iFood, a resposta é não. O reajuste, não será repassado ao consumidor final.

Mas sejamos realistas: se os custos da operação aumentam, de alguma forma isso pode respingar nos preços dos produtos dentro da plataforma, seja na taxa de entrega, seja nas promoções que vão ficar cada vez mais escassas.

A plataforma sabe que mexer nos preços é arriscado. Então, por enquanto, prefere absorver o impacto e evitar desgaste com o público.

Comparativo: como o iFood trata seus entregadores versus concorrentes

Em comparação com plataformas como Rappi e Uber Eats (onde ainda opera), o iFood lidera o volume de entregas, mas também lidera o volume de críticas. Enquanto o Rappi, por exemplo, tem investido em um canal de suporte mais ágil para entregadores e o Uber Eats ocasionalmente oferece bonificações mais expressivas em horários de pico, o iFood ainda patina em alguns pontos cruciais.

Alguns pontos em que o iFood ainda patina:

  • Falta de transparência sobre o cálculo do valor das corridas;
  • Ausência de canal direto e eficaz de atendimento ao entregador;
  • Bonificações e incentivos instáveis.

Enquanto concorrentes menores tentam atrair entregadores com taxas mais atrativas e rotas mais curtas, o iFood aposta no volume. E quem entrega sabe que quantidade nem sempre significa dignidade.

A conta fecha? Custos, ganhos e realidade nas ruas

Coloque tudo na ponta do lápis:

  • R$ 7,50 por entrega
  • Média de 15 a 20 entregas por dia
  • Gastos com:
    • Gasolina
    • Alimentação
    • Manutenção do veículo
    • Saúde

O resultado é um lucro líquido que beira o salário mínimo, isso quando a demanda colabora.

Com mais entregadores na rua do que pedidos disponíveis, muitos fazem jornadas exaustivas para faturar o básico. A conta só fecha para a plataforma, que tem lucros anuais cada vez maiores.

O que o reajuste revela sobre a relação entre iFood e seus entregadores?

Na prática, o reajuste mostra que o iFood só reage quando pressionado. A empresa tenta manter uma imagem de parceira, mas na verdade:

  • Não há vínculo empregatício;
  • Não há diálogo constante;
  • As melhorias são lentas e pontuais.

Ou seja, é uma relação fria, de interesse comercial, e o entregador sabe que é substituível a qualquer momento.

Vale a pena continuar como entregador em 2025 com esse novo cenário?

A resposta depende de um fator: alternativas.

Se o entregador tem uma outra opção, talvez a melhor opção seja sair da plataforma. Se não tem, talvez seja melhor continuar até uma nova oportunidade surgir. O que era uma solução provisória para uma renda extra ou temporária virou meio de vida permanente para muitos, sem garantia, sem valorização e sem horizonte.

O reajuste é um sinal, mas não é a virada de jogo. É preciso mais: respeito, remuneração justa e condições mínimas de dignidade. Até lá, a pergunta vai continuar ecoando nas ruas: vale mesmo a pena?